O texto que segue é de Gregório de Matos, nascido em Salvador em 1636 e conhecido também como Boca do Inferno. Esse poema é apresentando como um rap na Praça da Língua no Museu da Língua Portuguesa, o que faz ele soar ainda mais atual embora tenha mais de 3 séculos de idade!
Epílogo (Soneto)
"Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.
Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
Quais são os seus doces objetos?....Pretos
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos.
E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?......................Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.
Que vai pela clerezia?..................Simonia
E pelos membros da Igreja?..........Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.
Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica,
é Simonia, Inveja, Unha.
E nos frades há manqueiras?.........Freiras
Em que ocupam os serões?............Sermões
Não se ocupam em disputas?.........Putas.
Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.
O açúcar já se acabou?..................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Logo já convalesceu?.....................Morreu.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
A Câmara não acode?...................Não pode
Pois não tem todo o poder?...........Não quer
É que o governo a convence?........Não vence.
Que haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence."
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domingo, 10 de janeiro de 2010
É ou não é?
Hoje visitei o Museu da Língua Portuguesa (http://www.museulinguaportuguesa.org.br/), localizado na estação da Luz de São Paulo. É um passeio obrigatório para todos que tiverem um tempinho em São Paulo!
O museu ocupa três andares, conta com exposições temporárias e é o maior dedicado inteiramente ao nosso idioma. Tudo muito bem feito, bonito e moderno.
Das partes que mais gostei tem a Linha do Tempo, que explica desde a origem dos idiomas e suas diversas famílias, até as alterações que nossa língua sofreu durante o tempo, e o Beco das Palavras, um jogo muito divertido e interativo de montar palavras e conhecer mais sobre elas!
Agora, o que realmente é de tirar o fôlego é a Praça da Língua! Textos e imagens se fundem em uma sala com citações dos maiores autores!
Além do museu, ainda vale a visita pela bela Estação da Luz e o parque da Luz logo em frente. De quebra se tiver pique, ainda tem a Pinacoteca do Estado logo ao lado.
Dentre todas as obras apresentadas na Praça da Língua, as que mais chamaram minha atenção foram "Epílogo" de Gregório de Matos (vou postar ele separado, por que é maior) e um fragamento de "Memórias de Emília" (1936) de Monteiro lobato que reproduzo aqui:
..a vida, Senhor Visconde, é um pisca - pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
Saindo do museu só tive uma certeza... A lingua Portuguesa é realmente linda e muito rica! É ou não é?
O museu ocupa três andares, conta com exposições temporárias e é o maior dedicado inteiramente ao nosso idioma. Tudo muito bem feito, bonito e moderno.
Das partes que mais gostei tem a Linha do Tempo, que explica desde a origem dos idiomas e suas diversas famílias, até as alterações que nossa língua sofreu durante o tempo, e o Beco das Palavras, um jogo muito divertido e interativo de montar palavras e conhecer mais sobre elas!
Agora, o que realmente é de tirar o fôlego é a Praça da Língua! Textos e imagens se fundem em uma sala com citações dos maiores autores!
Além do museu, ainda vale a visita pela bela Estação da Luz e o parque da Luz logo em frente. De quebra se tiver pique, ainda tem a Pinacoteca do Estado logo ao lado.
Dentre todas as obras apresentadas na Praça da Língua, as que mais chamaram minha atenção foram "Epílogo" de Gregório de Matos (vou postar ele separado, por que é maior) e um fragamento de "Memórias de Emília" (1936) de Monteiro lobato que reproduzo aqui:
..a vida, Senhor Visconde, é um pisca - pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
Saindo do museu só tive uma certeza... A lingua Portuguesa é realmente linda e muito rica! É ou não é?
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